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Artigo: General não recebe ordem de capitão

Por Leandro Dóro, 

Diretor de comunicação do Sindisindi

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, transformou-se em menos de um mês no queridinho da mídia. Isso acontece inicialmente porque a família Bolsonaro utiliza redes sociais, desqualifica meios de comunicação, elege algumas emissoras para serem seus porta-vozes e retira poderes da assessoria de imprensa do Palácio do Planalto. Enquanto isso, Mourão se apresenta como um general que aceita e respeita os meios de comunicação. Por isso é ouvido constantemente.

Essa atitude já preocupa os correligionários de Bolsonaro, que parecem não aceitar ou fingir ser contra a tutela militar já exercida sobre o presidente. O Fórum Econômico Mundial de Davos provou que Jair Bolsonaro é totalmente despreparado para exercer a presidência. Gerou constrangimentos ao país e críticas internacionais que, pásmem, não foram compreendidas pelo presidente. Afora isso sua família possui envolvimento histórico com milicianos - criminosos vistos com simpatia por a setores das Forças Armadas, pois são herdeiros do Esquadrão da Morte, tão temido na ditadura. Entretanto, essa vinculação explícita mancha a imagem da presidência de forma irreversível.

Além desses motivos, há fatores muito mais contundentes que definem o motivo pelo qual Mourão exerce uma presidência paralela. A presença de militares no governo é maior do que no período da ditadura. Ao invés de adotar a teoria conspiratória de que isso já é um pré-golpe, pode-se interpretar essa presença como um baixíssimo poder político da família Bolsonaro.

Se Bolsonaro tivesse livre trânsito pela Câmara e Senado, conseguiria indicar muito mais políticos para os ministérios do que militares. Entretanto, o fato de pertencer ao baixo clero pesa sobre sua presidência, que precisa buscar políticos tradiconais e, por vezes, questionáveis para criar um mínimo poder de negociação - vide o interesse de Bolsonaro em indicar Collor para presidência do senado que, por si, já vai contra o que os eleitores desejam.

Ainda há o fato de Mourão ter sido presidente do Clube Militar, agremiação que reúne egressos da ditadura. Em 2014, diversas chapas concorreram a eleição do Clube. Em 2016 não ocorreu eleição. Porém, em 2018, houve chapa única liderada por Mourão que ganhou sob a promessa de trazer de volta o protagonismo político dos militares. Essa informação está presente em revistas online como a Sociedade Militar, onde também há artigos que chamam Bolsonaro de “oficial subalterno”.

Portanto, Bolsonaro incorre em uma série de problemas que talvez seja incapaz de perceber: não possui trânsito político suficiente par criar um ministério político; tem muitos ministros militares, cuja educação afirma que o general deve ser superior ao capitão; criou uma relação imprópria com a imprensa – o quarto poder -, o que fará com que a opinião pública se volte rapidamente contra si e, por último, há seu envolvimento umbilical com as milícias e, portanto, o crime.
Esse conjunto, aliado a outros elementos ainda obscuros, como a indicação de Sérgio Moro para ministro da Justiça, cria um caldo que pode fazer com que Mourão seja levado a ser o verdadeiro presidente quase que imediatamente.

General não recebe ordem de capitão.