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Porto Alegre é a Capital com maior desigualdade racial no país

Em 2017, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, através do relatório de Desenvolvimento Humano para Além das Médias, que o Brasil ocupa a 10ª posição entre os países com maior desigualdade entre negros e brancos. Das capitais brasileiras, Porto Alegre registra o maior desequilíbrio econômico/social entre as raças. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) da população negra na Capital é de 0,705, uma diferença de 18,2%, quando comparado ao IDHM da população branca, que é de 0,833. A média nacional fica em torno de 14,42%.

O IDHM é medido de 0 a 1, através da renda, educação e saúde da população. O relatório destaca que o IDHM dos negros demorou uma década para que conseguisse se equiparar ao dos brancos. Isso quer dizer que em 2000 o IDHM da população negra era de 0,530 e dez anos depois passou a ser de 0,679. No entanto, nos anos dois mil o IDHM da população branca já ficava em torno de 0,675, 27,1% a mais do que o dos negros na época, e seguiu crescendo, chegando a marca de 0,777 em 2010. Segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil 54% da população é composta por negros e pardos. Ainda assim, são eles os que mais sofrem com a desigualdade.

Para Oscar Henrique Cardoso, que já foi presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Povo Negro, tamanha diferença existe porque há desigualdade no acesso à saúde e educação, por exemplo. “Quem vem de uma educação pública de baixa qualidade terá acesso a empregos com baixos salários”, ressalta. Cardoso acredita que as dificuldades que os negros encontram para ingressar no mercado de trabalho reflete diretamente na informalidade. “Mesmo que as políticas de cotas funcionem, a população negra sempre estará atrás nos índices de desenvolvimento”.

O preconceito racial é um dos maiores empecilhos para que negros não ocupem cargos de liderança no Brasil. Quando nos referimos a mulheres negras, elas recebem um salário de cerca de 60% a menos do que um homem branco. Ou seja, a mulher negra é a menos valorizada no mercado de trabalho. Elas, ainda hoje, são a maioria dentro das casas trabalhando como domésticas.

“Os negros são os menos preteridos em vagas de alto comando”, afirma Cardoso. Para ele, o único lugar onde o negro consegue ter ascensão em nosso país é no serviço público. “As cotas servem para garantir um pouco de equidade social”, conclui. Mesmo com tais iniciativas, a presença de negros ainda é pequena nos cargos públicos e dentro das universidades.

De acordo com o Ipea, em 2010 a renda domiciliar per capita média da população branca brasileira era mais que o dobro da população negra: R$1.097,00 ante R$508,90. No que se refere a educação, 62% da população branca com mais de 18 anos possuía o ensino fundamental completo, já dos negros apenas 47% haviam concluído as séries iniciais. Outro fator que difere brancos e negros é a expectativa de vida, respectivamente a 75,3 anos para brancos e 73,2 para negros.

Para a jornalista Camila de Moraes, militante das causas negras, todas essas diferenças citadas na pesquisa fazem com que a sociedade segregue os negros, marginalizando toda a sua população. “Por falta de oportunidades a sociedade nos exclui, nos torna marginais, nos coloca na prisão e depois nos assassina”, enfatiza. Camila recentemente lançou um longa-metragem chamado “O Caso do Homem Errado” que tem como pano de fundo o racismo e o genocídio da juventude negra a partir de um assassinato que aconteceu em Porto Alegre em 1987.

Júlio César foi confundido com um bandido durante um assalto em um supermercado próximo de onde ele vivia. Ele foi colocado em uma viatura da Brigada Militar e pouco mais de uma hora depois, foi registrada a chegada do seu corpo no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Júlio César foi morto pelos policiais com dois tiros durante o trajeto. “Quando se mata um jovem negro se extermina com uma família inteira, uma sociedade, acaba com planos e sonhos”, completa Camila.

A jornalista afirma que a luta pela igualdade não pode partir apenas da população negra, todas as etnias precisam buscar juntas um mundo melhor onde não haja motivos para a discriminação. “A militância negra nos ajuda a enfrentar os problemas, a superar dores internas causadas pelo preconceito, mas a luta tem que ser de todos: brancos, negros e índios”, finaliza.

Para Silvia Duarte, que se dedica há trinta anos ao movimento sindical e social em defesa dos trabalhadores, das mulheres e das mulheres negras, a desigualdade também é fruto do egoísmo e do individualismo das pessoas, por isso é importante que a militância do povo negro seja permanente. De acordo com Silvia, dentro da luta dos negros, existem outras tantas que devem ser lembradas. “As mulheres negras estão no topo da violência doméstica e obstetrícia e do desemprego, além de terem os seus filhos mortos ou presos apenas por serem negros”.

O Brasil foi o país com o maior período de escravidão vigente na história. Foram três séculos de sofrimento para a população negra. “O nosso país ainda hoje é a Casa-Grande e a Senzala, como descreveu o sociólogo Gilberto Freyre. A senzala de ontem é a favela de hoje”, conclui Cardoso.